sábado, 30 de junho de 2012

Escarro de lua


Tanto amor se fez para a derrota da humanidade. De amor em amor se fartam, se comem, se bebem. Porque o amor é libertino, abafa o silêncio, aperta o pecado. E frescurento, se opõe a divindade. Aos soberbos, sexo e missa negra. Aos espertos, um vapor do mato. Terna desgraça, desgraça amorosa. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nisto



Não amo, mas tenho coração. Não choro, mas tenho liberdade. Não rezo, mas sou a lei. Às vezes é prazer. Às vezes é preguiça. São coisas que se entendem quanto se comem por amor. Nisto sou lindo, cheiroso e rebelde. Nisto que chamo de mundo. Nisto que amamento e ensino que o amor é a pior desonra na vida de uma família. Nisto que mato e acendo um cigarro. Nisto que bebo e transo com seis. Sou a espécie de um macho qualquer. Sou parte da ninharia coberta de terra. Uma miséria endiabrada. Um docinho nas drogas. 



domingo, 24 de junho de 2012

Desafronta


Há aqueles que ainda dizem que amar não cansa ou que acender um cigarro é entusiasmo para o pulmão. E se dizem espertos, mas amam acidentalmente. A miséria sempre se reproduzindo. Trabalha, e teima, e sofre, e pede para morrer. Quando se deseja amor, é preciso crueldade. Porque sabemos que o amor é metido, esperto, danado, desgraçado, chupão. Você pode amar qualquer coisa. Lembre-se de destruir algo primeiro. Amei muita gente e matei o que disseram ser amor.

Uma música: Goodbye To The Circus - Aqua 


terça-feira, 19 de junho de 2012

Fantasmagoria


Houve um tempo em que o amor era público. Quebrava-se o encanto e impregnava-se a gaiatice. Os homens, mesquinhos e finos de tanto amar, casariam-se por pura ingenuidade. E a crença no amor pagão tornaria-se requintada, os carentes repousariam no lampejo da noite. Porque não  há cigarro, nem café, nem maconha que o arraste de volta. O amei nas horas em que precisava de uma mãe, não de um rapaz. O amei pausadamente. Mas Topy não importou-se com tanta pieguice. Acabou, Topy. Só me resta saber quando iremos nos olhar de novo. E se nos olharmos, que ainda reste certa incerteza de que as coisas não se tumultuam por causa do que se sente. 

CARTA PARA MARIA RITA

         
         "Querida Maria, não se desespere. Não guardo mágoas por você ter dito que eu o amo. Sinto-me totalmente aliviado com sua ousadia. Menina pequena, você soube traquinar bem. A culpa é minha por ter confiado em você, eu sou carente de confiança. Eu te honrei. E quando soube que tudo estava confuso, não precisei chorar. 
       Lembro-me quando te confessei que eu o amava, você prometeu conversar comigo. Mas também disse que o cara era chato, ele iria ignorar qualquer gesto meu. Maria, são complicações que vêm do amor. E os meus amores nunca foram educados, um sempre superava o outro. Mas fiquei triste por nossa amizade, por não ter mais tempo para você. Não quero que se distancie, mas que fique ciente de que você me matou. Ao menos seja gentil e admita que mentiu para si mesmo. 
         Você ainda não amou. Também nunca namorou sério, creio eu. Você é bobinha, não saberia controlar tanto amor assim. E sei que um dia você vai se esconder quando amar, te escrevo por experiência própria. E Maria, não se esqueça de que você me impediu de presenteá-lo com os meus escritos, o que me deixou com vontade de te dar uma surra. Mas como tenho tanto amor pelo branquelo, fiz questão de não aproximar-me de ti. 
         Agora que fizeste coisa ruim, podes ter certeza que o mal vai te fazer moradia. Porque se destruíres outro amor, com qual coração tu vais amar adiante? Já não basta o que fizeste ao meu? Ou tu achas que os amigos dele vão me sustentar quando eu estiver em prantos pelos corredores? Se não queres viver no mundo, não sou eu que vou viver por ti. 
         Preciso beber um pouco mais. Depois de uns meses, quando ele estiver longe, voltarei a conversar contigo. Sentaremos na cantina. Menina modesta, te desejo sorte. E que você o diga que eu o amo loucamente – já que não sou homem de tanta coragem. E lembre-se: você destruiu um amor, vai ter sorte no jogo."

sábado, 16 de junho de 2012

Nós


Nós, poetas fingidores do materialismo, contemplamos apenas o que aprendemos a conhecer em nós. Há poetas que nada sabem, sustentam a ideia de que o amor é válido após um motim de infelicidade. A vida de um poeta, como a de um indivíduo, é uma penúria, um martírio desocupado, qualquer cor rasgada, qualquer cigarro empoeirado. Serdes poetas, excomungados e murchos de fé, compassivos e feitores do desconhecimento.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carniça


Dentre as trevas que assolam o entardecer, o amor ressurge com um tom açucarado. Faz-se amor entre amigos, primos e irmãos; faz-se amor em tudo que é canto: na água, no mato e no lixo. Desvirtuaram a ternura divina: puseram meretrizes fartas de demônios e seus cantos adoecem os homens desta aldeia. Todavia, que é o amor? Constituído de coisa que se gasta, é guloseima aos olhos de meu povo. Ora, não há um só amor que dure, nem receio que machuque, nem criança que se esconda, nem mulher que se espante.

domingo, 3 de junho de 2012

Nota prévia



Perdoem-me pelo atraso, estou descontrolado. Ando frio, seco e distante, não sinto-me bem. Além disso, o amor tem me aprontado algumas. Não sei quando voltarei a postar, estou de passagem. Prometo voltar antes do Natal, muito antes. Fiquem bem.