sábado, 17 de dezembro de 2011

A 1 km da costa do inferno


Era uma estrada longa, muito longa. O clima estava afável, por incrível que pareça, não fazia calor nem frio. Não ventava naquele lugar, nenhuma folhinha tinha o direito de cair daquela árvore. Não era árvore frutífera, era árvore seca. Tudo era seco e cinza. Eu nem estava reclamando de nada, eu estava quase sonhando. E, quando me virei, eu vi uma fronteira: uma grande fronteira sustentada por dois pés, dois pés de homem. E lá ia o povo correndo, o povo tinha pressa. Eram passos acelerados. Depois, um portão: um portão de ferro. Um portão do tamanho de vinte e sete homens; era um portão. Esperava pacientemente alguém para me atender, estávamos todos atordoados e intrigados com os nossos sonhos. Os sonhos estavam de viagem. O portão se abriu, era um abismo: um grande abismo ofuscado, não tinha fim. Foi descendo um por um, depois dois por dois, dez por dez, cem por cem, quinhentos por quinhentos... Foi descendo todo mundo. Ninguém dizia uma palavra, eram todos mudos. A dor é para todo o sempre, vai ficar impregnada para sempre aqui, conosco. Depois a gente chora, depois a gente berra, depois a gente se arrepende. Enquanto os pedaços do meu corpo estavam na grelha, o meu coração não fazia mais parte de mim, ele tinha saído. O meu coração foi covarde, fugiu para não queimar comigo. Esse sim sempre foi esperto... Deus, logo mais me viu, não disse nada. Aquele clima afável tornou-se um clima de constante imprevisibilidade. E todos estavam em uma dança só: a dança das almas esbraseadas. Logo mais, teremos pedaços de carne espalhados pelos cantos, logo mais a gente passa a ser homem de novo. O amor tem nada a ver com isso.

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