terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Somos casais


Eu causo tanto desgosto, eu e meus vícios amorosos, eu e minhas paixões exorbitantes. Quase não tremo por amor, quase não choro por amor. O amor me vem nos fins de semana; quando os meus cigarros estão sob a mesa; quando o chão da sala vira plantação de fumo. Invejo que ama, quem tem flor no vaso todo dia; quem cuida verdadeiramente do coração; quem lava, passa, cozinha, quem ainda tem o resto da tarde pra fazer amor. Não conto os dias nem as horas, eu espero. Eu espero mais ansioso, eu espero mais faminto. Lá no fundo, no fundo mesmo, eu sou muito desconfiado, sou cabeça dura para acreditar em coisas benéficas do fundo do coração. Eu espanto qualquer um que me traga um gole de amor ao invés de cachaça. Não imagino que Deus possa ter criado tanto amor assim, eu ando vazio. Espero não morrer seco. E, não precisa sentir pena de mim, meu caro. É cada amor com seu tempo, cada mágoa, cada desesperança, cada ciúme com seu tempo; cada aborrecimento tem seu tempo. Agora irei dormir, tá um friozinho danado, preciso me agasalhar sozinho. Onde estão os meus cobertores? Visto a calça, as meias, a camisa, as luvinhas, o gorrinho. Calço as pantufinhas e deito-me em uma cama de casal. Somos casais: eu e aquele mesmo vácuo; aquele mesmo desterro. Então, cubro-me de lençóis, faço amor comigo mesmo, não tenho ninguém.

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