domingo, 2 de dezembro de 2012

Reservado


Estou cansado. Estou morrendo. Estou só. Tô me afastando de tudo que me atrasa, me cativa, me censura, me quer bem. Não tenho tempo para amores cumpridos, sinto-me bem causando tumultos. E os amigos, todos grandes, chapados, modestos. Não há esperança, nunca houve. Estarei acabado nos próximos três anos, disposto a bater de frente com a morte. Por isso me tranco. Por isso me afogo, em qualquer brisa do bairro, qualquer cinza, qualquer vinho, qualquer droga. Ninguém vai tirar minha alma de mim. Sei brigar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dropa comigo?


Dropa comigo? Conheci uma nova droga. Conheci um novo cara. Estou de romance, os atrasos já se foram. E o verão ferve, os beijos revivem. E o que tenho sentido nestes últimos meses não me faz falta, tenho o controle de meu coração. Sou bobinho, mas sei de meus defeitos, sei de tudo o que sou. Quando estou triste, canto. Quando estou feliz, rezo. E da vida nada quero, porque bati de frente com o mundo. Deixei velhos amigos, procurei por uma mãe, fui atrás de novos amores; não encontrei ninguém que me fizesse dançar. Mas tenho medo de mim, quando estou só, fumando um cigarro. Medo do clarão da noite. Medo de mim. Dias atrás voei, refiz o céu com cores talhadas, quis suicidar-me com amor. E não fumei nada, as minhas sedas ainda estão guardadas. Eu só usei a língua, a mesma que te afasta de mim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Gostoso


Gostoso é chegar em casa e não ter amor, bater uma punheta e ir dormir. Gostoso é saborear a vida como se fosse o último centavo; desprezar as simplicidades e cair de cara na cachaça. Melhor ainda é chegar em casa sem ver o último filme da sessão da madrugada, sem euforias, sem continuidade. Bom ainda é estar rodeado de falsos amigos, a malícia nos remete aos mais puros efeitos de amor. Gostoso é fingir que não sabe amar, os dramas mais ensaiados prometem noites fartas do desconhecimento.

sábado, 25 de agosto de 2012

O lado rosa do amor

     
        Quando eu morrer, não quero velas. Para onde irei não há necessidade de fogo, estarei repousando. Nos últimos dias de minha vida, quero os meus homens poderosos e literários. Todos livres e modernos, condenados pelos seus bens materiais. Ainda que o sol se esconda, todas as estrelas cairão por terra, os anseios para um povo melhor serão cumpridos. E os ricos e fracos, e a raça ralé, e toda a imundice do mundo, confortarão o meu peito. 
       Amigos queridos, não digam que sentirão saudades, porque o que se faz do amor, se tem por inteiro;  não dividi-se em partes. Sabem que amor é vaidade, obra da carne. Amor tem sido questionado, amor diferente do amado. Ai dos que amam, puros e inocentes, porque a inveja vive nos demais olhos contentes. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Migalha


Me calar é um crime. Para cada homem que amei, uma porrada de cana e muita maconha enxuta. Eu vou por aí, deliberadamente, com a intenção de enganar ou não. Muita violência, bebedeira e um pouco de sexo seguram a minha trama bem escrita. Estou aqui só de passagem, deixo-me ciente das implicações afetuosas. Santifico-me diante do Pai, não tenho conhecimento de alguma coisa. Mas guardo centenas de homens dentro deste pobre coração. E posso dizer que sou cabra macho: acordo cedo, café fresco na mesa, banho frio, casa limpa e homem ausente, servindo o restante da classe social.

domingo, 12 de agosto de 2012

Éden


Sempre imagino Deus nos olhando. Cada fracasso, cada desânimo, cada cobertura. Nos meus dias de sono, quando os céus se queimam, mostro-me humilde diante do Senhor. E como qualquer outro homem fraco, sei de meus pecados. E Deus insiste em entrar aqui em casa, onde todas as portas são difíceis de desemperrar. A alma nega, no entanto, que sua grave crise tenha se dado bem nas suas quantidades. E o homem destrói, constrói e enterra. São azedos, amigos e necessitados. Cada um veste o que quer. Gritam, amam e desgastam-se. Que Deus nos joga no mundo e nos deixa por tão pouco tempo? Bandeira branca para os que serão saciados. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Peste


Engraçado, ando perdendo muitos amores neste ano. Chateio-me com os meus entusiamos, estão cada vez mais atraentes. É fascinante observar como, num espaço tão pequeno, eles conseguem destruir tantas coisas ao mesmo tempo. Sem dor. Tudo muito rápido, muito desanimado. E eu não preciso esperar muito para me dar conta do que pedi. Se um amor se vai, recebo dois em troca. Existem muitas outras diversões para o homem, estamos em processo de evolução. O que acontece é que, para mim, não há amor em fartas doses, os sentimentos que captam o que se passa sempre terminam. Como um tal amor de faculdade. Como um tal moço que insiste em dizer que é moço. Ora, não vejo razão para tanto amor. Se um dia eu o encontrar, o direi que, para evitar um subterfúgio, o álcool era-lhe uma fuga. Aqui existo há pouco tempo, com mais inteligência. Sem amor. Com obediência. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Vizinho




O menino se foi

Cambaleei sozinho


Sacoleja o coração

Nas entranhas do mocinho


E faz-se amor distante

Debaixo de vara, com o vizinho.



terça-feira, 31 de julho de 2012

Sorriso covarde



Às vezes um sorriso travo
No último trago de um cigarro
Sinto-me farto
Quando um sorriso travo
Na sola de um sapato:


Pernas estreitas
Boca sebosa
Unhas carnudas
De pele manhosa.


Se é sorriso quem sabe
O que se sabe por detrás
De um sorriso covarde. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Rastro



Nenhuma macumba me pega
Nenhum homem me excita 
Nenhuma empregada me rouba
A erva salva do fim do dia


Nenhum ônibus me socorre
Nenhum santo me acolhe
Nenhum rato me espanta
O sangue mais infame que corre


E no doce som das lentilhas
Onde poeira cobre o mar
Eu vou cantando alegremente
Até o mundo se juntar.


Pai, frabrica eu!
Deixa o pobre espernear!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Servo





Queria que o meu menino durasse muito tempo. Mas o meu menino não sabe amar, é irracional e muito branco. Tem olhos claros, mas vive com a vista embaçada. Não vou investir mais nos pares românticos. Sou um doente condenado por consumo de versos e drogas. Aquilo que se vê pelo homem. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Poema do menino


Que és tu, menino?
Soas como a folha da maçã
Olhas como um rei esmeraldino


Que és tu, menino?
Sentes como uma rugosa avelã 
Choras quanto tu és pequenino


Que és tu, menino?
Sábio sabido branquelo batido?
Te bato na fuça e estais de castigo

Partida


Ainda me resta alguns dias para decidirmos a nossa situação. Não sei se te deixo partir. Também não sei se te deixo ficar. Seria o mesmo amor de sempre: ardente como brasa que jogam do inferno, gente que se vê e ouve ao longe. O teu olhar continuaria intacto. A tua maquiagem. O sorriso de moça que escondes por detrás de um dente manchado. Mas o teu amor estaria a certa distância. Podre. Suado. Amassado. Os corredores nos segurariam. Porque fiquei a pensar se serias um orgasmo ocasional.

domingo, 8 de julho de 2012

Preguiça


Preguiça de amar. Preguiça de arrumar o quarto depois da janta. Preguiça de me pentear. Preguiça de acender um cigarro e enamorar-me loucamente. Preguiça de levantar uma casa sem cores. Sem livros. Preguiça de reunir os amigos e festejar a noite toda. Preguiça de ir ao cemitério. Os exercícios e as horas de treino estão me matando. Agora, duas vezes por semana, posso ver um filme sentado no chão. Essa morosidade é normal. 

Um pedaço de carne


Ainda hei de dizer que o amor me bateu. Me deixou só quando os fiteiros fecharam. Me carregou pro outro lado da rua. Para os olhos mais verdes do que o mato que planto. Quando quis saber de amor, pressenti. Isto é, por meio dos homens, acompanho a vida demonstrando a existência da percepção das distâncias entre os objetos. Sendo assim, farei para mim um só homem: dopado a um estímulo exterior, que se manifesta quando a carne está pesada. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Uma flor



Se eu fosse rico
compraria uma flor
E todas as donzelas de meu bairro
vestiriam uma flor.


Se eu fosse rico
não daria esmolas 
Conservaria os meus centavos
e vestiria-me com uma flor.


Se eu fosse rico
compraria uma flor
Sabes tu, a flor é delicada
na catraca de um vapor.

Cigarro


Este cigarro não mata
Nem a peste que assobia
Quando do inferno rasteja
Vem soltando fumaçada


Este cigarro não mata
Na boca de um amigo
Na sola da cachaça
Que a donzela escarra


Este cigarro não mata
Quando puxa a fibra estala
E o vermelho faz um bem danado
Sob o céu em lua rasa


Este cigarro de menino
Tem um manto cristalino
Que da mente se faz bem
Quando se quer um outro alguém

Poema


O mundo é feio
E a vida arde


Logo a vida faz arte
Do olhinho do covarde


A mesma linda evolução:
A mosca, a bala e a televisão

quinta-feira, 5 de julho de 2012

São Miguel



Quero ir para São Miguel
onde os becos cheiram a fumaça
onde a mobília nova, envelhecida ao redor
faz pareia com a praça


Quero ir para São Miguel
onde machucam o cimento e cultuam a tragédia,  
onde as cores tumultuam as cabeças
e os gritos secam toda a superfície das palavras


Quero ir para São Miguel
habituados ao convívio mundano,
                    [As relações entre as pessoas e seus bichos]
Abeirados pela ousadia, gentalha que é mano


Ora, invenção dos doidos:
São Miguel não se exalta,
canta para o pobre
que dorme no caixote
sob o céu empoeirado
pela brevidade de um cigarro
que prende
que puxa
mas não solta.
Não é pecado.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pós-futurismo

Aqui debando da Literatura e trago alguns rabiscos. Daí que o processo de nascimento e desenvolvimento das cousas seja unicamente figurado.

Ivison Leal 


Mônica Motoshima


Geanne Coelho


Leon Moraes


Felipe Marinho


Gabriel Bezerra


Jadson Moura


Gleydson Correia


Gaby Martins


Maria Rita 


Leandro Ribeiro


Marilyn Manson



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Maquiagem




Desculpe, mas sabemos que estamos ficando velhos. Quando a carne apodrece, o coração torna-se mesquinho; o cuidado com o corpo já é suportável. Era só dizer que me amava. Era só acender um cigarro comigo. Menino, você demorou muito. Os quartos foram todos ocupados. Os ensaios, as travessuras, as divergências. Os olhares. Estou reduzindo o consumo de drogas, não há qualquer reparação a ser feita. 

sábado, 30 de junho de 2012

Escarro de lua


Tanto amor se fez para a derrota da humanidade. De amor em amor se fartam, se comem, se bebem. Porque o amor é libertino, abafa o silêncio, aperta o pecado. E frescurento, se opõe a divindade. Aos soberbos, sexo e missa negra. Aos espertos, um vapor do mato. Terna desgraça, desgraça amorosa. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nisto



Não amo, mas tenho coração. Não choro, mas tenho liberdade. Não rezo, mas sou a lei. Às vezes é prazer. Às vezes é preguiça. São coisas que se entendem quanto se comem por amor. Nisto sou lindo, cheiroso e rebelde. Nisto que chamo de mundo. Nisto que amamento e ensino que o amor é a pior desonra na vida de uma família. Nisto que mato e acendo um cigarro. Nisto que bebo e transo com seis. Sou a espécie de um macho qualquer. Sou parte da ninharia coberta de terra. Uma miséria endiabrada. Um docinho nas drogas. 



domingo, 24 de junho de 2012

Desafronta


Há aqueles que ainda dizem que amar não cansa ou que acender um cigarro é entusiasmo para o pulmão. E se dizem espertos, mas amam acidentalmente. A miséria sempre se reproduzindo. Trabalha, e teima, e sofre, e pede para morrer. Quando se deseja amor, é preciso crueldade. Porque sabemos que o amor é metido, esperto, danado, desgraçado, chupão. Você pode amar qualquer coisa. Lembre-se de destruir algo primeiro. Amei muita gente e matei o que disseram ser amor.

Uma música: Goodbye To The Circus - Aqua 


terça-feira, 19 de junho de 2012

Fantasmagoria


Houve um tempo em que o amor era público. Quebrava-se o encanto e impregnava-se a gaiatice. Os homens, mesquinhos e finos de tanto amar, casariam-se por pura ingenuidade. E a crença no amor pagão tornaria-se requintada, os carentes repousariam no lampejo da noite. Porque não  há cigarro, nem café, nem maconha que o arraste de volta. O amei nas horas em que precisava de uma mãe, não de um rapaz. O amei pausadamente. Mas Topy não importou-se com tanta pieguice. Acabou, Topy. Só me resta saber quando iremos nos olhar de novo. E se nos olharmos, que ainda reste certa incerteza de que as coisas não se tumultuam por causa do que se sente. 

CARTA PARA MARIA RITA

         
         "Querida Maria, não se desespere. Não guardo mágoas por você ter dito que eu o amo. Sinto-me totalmente aliviado com sua ousadia. Menina pequena, você soube traquinar bem. A culpa é minha por ter confiado em você, eu sou carente de confiança. Eu te honrei. E quando soube que tudo estava confuso, não precisei chorar. 
       Lembro-me quando te confessei que eu o amava, você prometeu conversar comigo. Mas também disse que o cara era chato, ele iria ignorar qualquer gesto meu. Maria, são complicações que vêm do amor. E os meus amores nunca foram educados, um sempre superava o outro. Mas fiquei triste por nossa amizade, por não ter mais tempo para você. Não quero que se distancie, mas que fique ciente de que você me matou. Ao menos seja gentil e admita que mentiu para si mesmo. 
         Você ainda não amou. Também nunca namorou sério, creio eu. Você é bobinha, não saberia controlar tanto amor assim. E sei que um dia você vai se esconder quando amar, te escrevo por experiência própria. E Maria, não se esqueça de que você me impediu de presenteá-lo com os meus escritos, o que me deixou com vontade de te dar uma surra. Mas como tenho tanto amor pelo branquelo, fiz questão de não aproximar-me de ti. 
         Agora que fizeste coisa ruim, podes ter certeza que o mal vai te fazer moradia. Porque se destruíres outro amor, com qual coração tu vais amar adiante? Já não basta o que fizeste ao meu? Ou tu achas que os amigos dele vão me sustentar quando eu estiver em prantos pelos corredores? Se não queres viver no mundo, não sou eu que vou viver por ti. 
         Preciso beber um pouco mais. Depois de uns meses, quando ele estiver longe, voltarei a conversar contigo. Sentaremos na cantina. Menina modesta, te desejo sorte. E que você o diga que eu o amo loucamente – já que não sou homem de tanta coragem. E lembre-se: você destruiu um amor, vai ter sorte no jogo."

sábado, 16 de junho de 2012

Nós


Nós, poetas fingidores do materialismo, contemplamos apenas o que aprendemos a conhecer em nós. Há poetas que nada sabem, sustentam a ideia de que o amor é válido após um motim de infelicidade. A vida de um poeta, como a de um indivíduo, é uma penúria, um martírio desocupado, qualquer cor rasgada, qualquer cigarro empoeirado. Serdes poetas, excomungados e murchos de fé, compassivos e feitores do desconhecimento.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carniça


Dentre as trevas que assolam o entardecer, o amor ressurge com um tom açucarado. Faz-se amor entre amigos, primos e irmãos; faz-se amor em tudo que é canto: na água, no mato e no lixo. Desvirtuaram a ternura divina: puseram meretrizes fartas de demônios e seus cantos adoecem os homens desta aldeia. Todavia, que é o amor? Constituído de coisa que se gasta, é guloseima aos olhos de meu povo. Ora, não há um só amor que dure, nem receio que machuque, nem criança que se esconda, nem mulher que se espante.

domingo, 3 de junho de 2012

Nota prévia



Perdoem-me pelo atraso, estou descontrolado. Ando frio, seco e distante, não sinto-me bem. Além disso, o amor tem me aprontado algumas. Não sei quando voltarei a postar, estou de passagem. Prometo voltar antes do Natal, muito antes. Fiquem bem. 


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cabeça


É meu, só meu. Não é literatura, é nudez. Não é escárnio, é decência. Enquanto for meu, é coisa simples, é coisa do mundo. E se não for meu, é coisa simples, o impulso é o mesmo. 


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Saudações!



Aventurei-me no amor, suavizei as cores. Pus-me a pensar, quis receber amor como quem recebia dinheiro. Acolhi a vida, deixei de lado a maconha, comprei salgadinhos; estou em pecado. Nos verões de minha cidade, passo a tarde debruçado sobre mesas. Engasguei-me com mágoas e palavras incertas, o mundo parecia-me coerente. Sinto falta de minha mãe. Nas ruas sebentas do meu Recife, assisto à velhinhas, observo seus murmúrios; é ausência de mãe. Adio o dia de hoje, ocupo-me com vaidades, estou quimicamente tratado. Pode vir algo bom de mim, estarei repousando.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Articulação


Querido, já debrucei-me na janela com dois cigarros na boca, um copão de café na mão e pastilhas fervorosas.  São coisas pelas quais já passei, mas ainda é novidade o que vem de ti. Separei uma beira para os teus livros, a outra é para as minhas descobertas.

sábado, 14 de abril de 2012

Ciências



Amo acidentalmente. Amo por deparar-me com gente suave. Em cada amor há uma exceção, são coisas desnecessárias, vagabundas; o amor não tem de quê. Porque a vida cisma, não temos tempo para aglomerações amorosas. Eu, eu que nada sei sobre o amor, ando paciente, observo as miudezas deste mundo. Pois, não é o amor a impressão mais pura e moderna? Eu cheguei por último, estou abrindo os caixotes.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Meu branco


Conheci um sorriso largo. Subi um degrau. Sinto cheiro de abóbora, os corredores estão alinhados. Os cabelos são ondeados, o queixo é de macho. Quando as línguas se embrulham, os ferros não rasgam. Em meio aos corpos ou nas horas em que necessito de um café, eu cheiro a folhinhas. São registros numerados, são escadas, são banquinhos, são árvores. Nestas coisas há amor, nestas coisas que são feitas de dois.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um breve discurso

Acabou. Nada de babaquices, nada de encantos. Te amei de tal maneira que apaguei todos os meus cigarros, estranhei o meu conforto. Deixei amigos, bares, conversas de adultos; assédios, ameaças. Mas as tuas recordações vão passar de leve nos corredores, banheiros; nos aposentos de minha faculdade. Teus olhos me estranharam, a tua cabeça grande não imagina.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Maré alta


O branquelo dos olhos verdes voltou a me olhar. O branquelo enjoado voltou a me olhar. São olhares vagos, são incursões desajeitadas. Mas os desvios são maiores, as doidices são ameaças. Quatro olhos encontram-se inesperadamente, perdidos em corredores estirados. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Monografia residencial


As coisas já não são mais as mesmas desde que minha mãe se foi. Não falo sobre futebol, sinuca, malhação... Não dou detalhes sobre a última garota com quem trepei. Ando inutilmente atordoado, paro de bar em bar, sinto-me incapaz de comer um doce e andar de bicicleta. Esgotou-se minha fé, dei crédito a muita burrice. Agora busco o meu fumo, acendo os meus cigarros, ausento-me do Blues, durmo no chão. 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Alegria e triunfo nos céus


Cada morto com seu cajado,
Cada morto com seu remorso
Foi-se o Sol, negra está a Terra,
Foi-se a Lua, carmesim está a Terra.

Mal sabem os pequeninos
Que serão dias de pura agonia,
Importa que profetizes
Nestes dias de chama, nestes anos de fumaça.

O inferno está solto
À mercê de gente afoita,
Condenarás tu a tua própria laia?
Quando saíres à Rua com esta mesma boca?


sexta-feira, 2 de março de 2012

Capricho

REPOSTA DE UM POETA PERNAMBUCANO A UMA RAINHA ORIENTAL


E, havendo andado por tantas terras e recheando-me com muitas palavras, veio a mim um capricho. Olhai, pois, não é amor, é capricho. Mas em todas essas coisas há amor. E não só ele, o amor, mas nós mesmos, que temos um gosto levado ao extremo, também causadores de impressões desagradáveis, também domamos a língua. Ora, pois, não é amor, é capricho. Bendito seja o leite que embrulha a tua pele, bendito seja cada fio de teus cabelos, que, segundo a minha vontade, assenhorar-me-ei de ti. Porque que é a nossa vida? Desnudo-te nas maiores idiotices do mundo, desde os corredores até o degustar de tua farta boca.