terça-feira, 31 de julho de 2012
Sorriso covarde
Às vezes um sorriso travo
No último trago de um cigarro
Sinto-me farto
Quando um sorriso travo
Na sola de um sapato:
Pernas estreitas
Boca sebosa
Unhas carnudas
De pele manhosa.
Se é sorriso quem sabe
O que se sabe por detrás
De um sorriso covarde.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Rastro
Nenhuma macumba me pega
Nenhum homem me excita
Nenhuma empregada me rouba
A erva salva do fim do dia
Nenhum ônibus me socorre
Nenhum santo me acolhe
Nenhum rato me espanta
O sangue mais infame que corre
E no doce som das lentilhas
Onde poeira cobre o mar
Eu vou cantando alegremente
Até o mundo se juntar.
Pai, frabrica eu!
Deixa o pobre espernear!
terça-feira, 10 de julho de 2012
Servo
Queria que o meu menino durasse muito tempo. Mas o meu menino não sabe amar, é irracional e muito branco. Tem olhos claros, mas vive com a vista embaçada. Não vou investir mais nos pares românticos. Sou um doente condenado por consumo de versos e drogas. Aquilo que se vê pelo homem.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Poema do menino
Que és tu, menino?
Soas como a folha da maçã
Olhas como um rei esmeraldino
Que és tu, menino?
Sentes como uma rugosa avelã
Choras quanto tu és pequenino
Que és tu, menino?
Sábio sabido branquelo batido?
Te bato na fuça e estais de castigo
Partida
Ainda me resta alguns dias para decidirmos a nossa situação. Não sei se te deixo partir. Também não sei se te deixo ficar. Seria o mesmo amor de sempre: ardente como brasa que jogam do inferno, gente que se vê e ouve ao longe. O teu olhar continuaria intacto. A tua maquiagem. O sorriso de moça que escondes por detrás de um dente manchado. Mas o teu amor estaria a certa distância. Podre. Suado. Amassado. Os corredores nos segurariam. Porque fiquei a pensar se serias um orgasmo ocasional.
domingo, 8 de julho de 2012
Preguiça
Preguiça de amar. Preguiça de arrumar o quarto depois da janta. Preguiça de me pentear. Preguiça de acender um cigarro e enamorar-me loucamente. Preguiça de levantar uma casa sem cores. Sem livros. Preguiça de reunir os amigos e festejar a noite toda. Preguiça de ir ao cemitério. Os exercícios e as horas de treino estão me matando. Agora, duas vezes por semana, posso ver um filme sentado no chão. Essa morosidade é normal.
Um pedaço de carne
Ainda hei de dizer que o amor me bateu. Me deixou só quando os fiteiros fecharam. Me carregou pro outro lado da rua. Para os olhos mais verdes do que o mato que planto. Quando quis saber de amor, pressenti. Isto é, por meio dos homens, acompanho a vida demonstrando a existência da percepção das distâncias entre os objetos. Sendo assim, farei para mim um só homem: dopado a um estímulo exterior, que se manifesta quando a carne está pesada.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Uma flor
Se eu fosse rico
compraria uma flor
E todas as donzelas de meu bairro
vestiriam uma flor.
Se eu fosse rico
não daria esmolas
Conservaria os meus centavos
e vestiria-me com uma flor.
Se eu fosse rico
compraria uma flor
Sabes tu, a flor é delicada
na catraca de um vapor.
Cigarro
Este cigarro não mata
Nem a peste que assobia
Quando do inferno rasteja
Vem soltando fumaçada
Este cigarro não mata
Na boca de um amigo
Na sola da cachaça
Que a donzela escarra
Este cigarro não mata
Quando puxa a fibra estala
E o vermelho faz um bem danado
Sob o céu em lua rasa
Este cigarro de menino
Tem um manto cristalino
Que da mente se faz bem
Quando se quer um outro alguém
Poema
O mundo é feio
E a vida arde
Logo a vida faz arte
Do olhinho do covarde
A mesma linda evolução:
A mosca, a bala e a televisão
quinta-feira, 5 de julho de 2012
São Miguel
Quero ir para São Miguel
onde os becos cheiram a fumaça
onde a mobília nova, envelhecida ao redor
faz pareia com a praça
Quero ir para São Miguel
onde machucam o cimento e cultuam a tragédia,
onde as cores tumultuam as cabeças
e os gritos secam toda a superfície das palavras
Quero ir para São Miguel
habituados ao convívio mundano,
[As relações entre as pessoas e seus bichos]
Abeirados pela ousadia, gentalha que é mano
Ora, invenção dos doidos:
São Miguel não se exalta,
canta para o pobre
que dorme no caixote
sob o céu empoeirado
pela brevidade de um cigarro
que prende
que puxa
mas não solta.
Não é pecado.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Pós-futurismo
Aqui debando da Literatura e trago alguns rabiscos. Daí que o processo de nascimento e desenvolvimento das cousas seja unicamente figurado.
Ivison Leal
Mônica Motoshima
Geanne Coelho
Leon Moraes
Felipe Marinho
Gabriel Bezerra
Jadson Moura
Gleydson Correia
Gaby Martins
Maria Rita
Leandro Ribeiro
Marilyn Manson
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Maquiagem
Desculpe, mas sabemos que estamos ficando velhos. Quando a carne apodrece, o coração torna-se mesquinho; o cuidado com o corpo já é suportável. Era só dizer que me amava. Era só acender um cigarro comigo. Menino, você demorou muito. Os quartos foram todos ocupados. Os ensaios, as travessuras, as divergências. Os olhares. Estou reduzindo o consumo de drogas, não há qualquer reparação a ser feita.
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