quinta-feira, 22 de março de 2012

Maré alta


O branquelo dos olhos verdes voltou a me olhar. O branquelo enjoado voltou a me olhar. São olhares vagos, são incursões desajeitadas. Mas os desvios são maiores, as doidices são ameaças. Quatro olhos encontram-se inesperadamente, perdidos em corredores estirados. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Monografia residencial


As coisas já não são mais as mesmas desde que minha mãe se foi. Não falo sobre futebol, sinuca, malhação... Não dou detalhes sobre a última garota com quem trepei. Ando inutilmente atordoado, paro de bar em bar, sinto-me incapaz de comer um doce e andar de bicicleta. Esgotou-se minha fé, dei crédito a muita burrice. Agora busco o meu fumo, acendo os meus cigarros, ausento-me do Blues, durmo no chão. 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Alegria e triunfo nos céus


Cada morto com seu cajado,
Cada morto com seu remorso
Foi-se o Sol, negra está a Terra,
Foi-se a Lua, carmesim está a Terra.

Mal sabem os pequeninos
Que serão dias de pura agonia,
Importa que profetizes
Nestes dias de chama, nestes anos de fumaça.

O inferno está solto
À mercê de gente afoita,
Condenarás tu a tua própria laia?
Quando saíres à Rua com esta mesma boca?


sexta-feira, 2 de março de 2012

Capricho

REPOSTA DE UM POETA PERNAMBUCANO A UMA RAINHA ORIENTAL


E, havendo andado por tantas terras e recheando-me com muitas palavras, veio a mim um capricho. Olhai, pois, não é amor, é capricho. Mas em todas essas coisas há amor. E não só ele, o amor, mas nós mesmos, que temos um gosto levado ao extremo, também causadores de impressões desagradáveis, também domamos a língua. Ora, pois, não é amor, é capricho. Bendito seja o leite que embrulha a tua pele, bendito seja cada fio de teus cabelos, que, segundo a minha vontade, assenhorar-me-ei de ti. Porque que é a nossa vida? Desnudo-te nas maiores idiotices do mundo, desde os corredores até o degustar de tua farta boca.