terça-feira, 29 de novembro de 2011

Luz


Me pega no colo, me põe pra dormir. Apaga a luz. É no escuro que dois corpos se confundem, é no escuro que as mãos se cruzam; anima-se o amor, anima-se o fervor. Porque o meu coração está entupido de miradas; já não suporto teus olhares, já não me entram os teus sabores. Não estou querendo falar de amor, não agora. O amor vem por último; o amor me roga pragas. Eu te quero entre as coisas insuportáveis; eu te quero sem os olhos, eu te quero em brasa viva, eu te quero até no inferno. Não me desgasto ao te querer; não sou dono de tanta pieguice. Eu sou fraco. Qualquer dia desses, tomaremos um porre juntos, fumaremos, indagaremos qualquer idealidade; fugiremos nus; e bêbados, sóbrios de tesão. E, no outro olhar, farei de ti um sujeito cismado; herdarei de ti os teus prazeres carnais. Porque os que se dizem ser machos são maricas quando as luzes se apagam.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Água gelada



É mais um desses invernos calorosos
Outro cara, outro cara que morre

É mais um porre de olhares
Devaneios de um sujeito arrogante

A crença do amor em terras distantes
A crença  do amor em qualquer fotografia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

É um quarto, não um corredor



Me fala de amor
Que matei um por um com punhados de flores

Mais fumo do que bebo
Assanho-me ao imaginar-te em meus cigarros

Inferno.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma brecha, dois tijolos


Vai, vai embora do mesmo jeito 
Vai num gole de chá, num maço de cigarro, 
na embriaguez de um vinho, 
na última maconha empacotada; 
no último fumo do dia. 
E não recusa. 
Não obriga.
Só olha.






segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A troca


E fez-se um sopro da boca de Deus
Fez-se o que tinha de ser feito

E as mãos eram do tamanho de uma rua
Sustentaram uma pobre infeliz

De cima chove, de cima cai fogo
E os olhos lacrimejam


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Gente ruim


Gente ruim não morre logo
Se exibe com três dentes na boca
Sorriso travado

Gente ruim faz mal até debaixo d'água
Na tua própria casa
No teu cochilo

Gente ruim não morre logo
Gente ruim padece.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma fada



Uma fada veio ao meu encontro
Dessas pálidas de cabelos amarelados

Disse-me para desejar algo
Desejei amor, um amor qualquer

Foram-se todas as estações do ano
Só o inverno ficou.



Bastava



Bastava
Uma gota d´água no mundo

Bastava
Um mar na cidade

Bastava
A gente chorar



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Tsc tsc tsc



Um vagão para uma rosa
Três doses de uísque para um amor
Rabo preso

Coração animado
Um sopro de carência
E gelo

Tsc tsc... 
A gente se engana fácil fácil


sábado, 12 de novembro de 2011

Ensaio




Não me importo que te beijem
o que eu quero não está em cima
não me importo que te lambuzem o corpo, 
 que te esfreguem a língua na cara 
não me importo que te arranquem os cabelos, 
 que te amordaçam o pescoço, 
 que te queimem com ferro quente 
não me importo se o coração não faz mais aquele prucutum todo
 já disse, o que quero não está em cima
 o que quero está embaixo!



sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Por que me olhas tanto?


o teu amor me enfada
me cutuca até os dedos do pé
por que me olhas tanto?
não sejas tão pão-duro, dá-me um pouco desse amor
dá-me beijos, ao invés de miradas
arregaça as minhas pernas
mata-me, mata-me em qualquer corredor!

e do teu olho direito petrificado, cor de legumes
eduzo que és a coisa mais linda desses olhos meus

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Entra sem bater


eu quero uma casinha coberta de palha
eu quero uma bicicleta pra enfiar a roda no mundo
eu quero um radiozinho sem pilha, reciclável
 com muita música para ausentar-me desse fuzuê 
e quero um terreno só meu
 sem nenhum tipo de flor
quero um medidor de terra
também quero um céu só meu
 sem estrelas, sem luar, sem fulgor
também quero viver, dar umas boas gargalhadas e viver
viver desacompanhadíssimo 
viver perambulando por aí
quem sabe eu não encontre um cão sem dono
 eu quis dizer, um outro cão sem dono
e não quero lápis, caneta e papel
não quero romances
não quero versos ou letreiros
não quero poetas, linguistas, gramáticos e gramatiqueiros
só quero piscar os olhos de relance
já me iludi o bastante
 ao ponto de não ter fé em coisas incertas
 de esbanjar-me folheando dicionários
eu só queria poder dizer: 
mais amo do que bebo
então, contristaria-me, não desceria do salto.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Desrealização


Quem sou eu pra te querer? 
Alma vagante, coração mesquinho, sou só um pobre coitado afeminado
Quando penso em ti, disponho-me a te amar em minhas mãos
Velejo em teu corpo, em cada brecha da tua pele amarelada
Tuas pernas, tuas entranhas, teus cabelos 
No teu rosto de macho, no teu sorriso abstruso
Não vês que estou definhando por amor?
Estou ganindo, estou uivando
Estou quase gozando
Não quero acender outro cigarro e ir pra casa 
eu quero me esbrasear contigo 
Não te quero por duas noites, por uma aguardente, por pura idealidade 
eu só te quero por um cigarro
Tua brasa rasga a garganta, penetra no peito, dissolve o coração 
A tua fumaceira é traiçoeira
Deixa um beijo chamejante, um suor aromático
Deixa um amor atroz; um amor dos infernos 
Eu te quero
Assim espero
Assim te (re)espero. 

domingo, 6 de novembro de 2011

Amor no toilete




Vamos fazer amor no toilete?
Lugar minúsculo para tanto alvoroço

Eu te pego no colo, te canto um blues
Abocanho o teu corpo, esmordaço o teu rosto

Te quero sem nada, sem meias, pés no chão
Te quero esfomeado

Amor intrometido



Um garoto não ama uma garota
É bizarro, a esbofeteia
Em palavras, docinhos e beijos

Um garoto não ama uma garota
É do mundo, é afoito
É arteiro perante ao padre  

Há um mito: o amor a si mesmo
Amor de barba e bigode, amor intrometido

sábado, 5 de novembro de 2011

Evidência


Triste de quem se apaixona!
Triste de quem acredita no tal amor!

Maravilho-me com a avidez das putas:
Aquelas que vivem por avenida afora
Abusam das gostosuras da carne e herdam algum trocado
Não queixam-se em prantos

Triste de quem acende um cigarro quando sente que o [coração está em brasa viva!



Menino de olhos verdes



Menino de olhos verdes
o que queres tu de mim?
Queres um beijo?
Ou um aconchego?


Menino de olhos verdes
o que queres tu de mim?
Assanhaste-me até os nervos
Já estranho-te por tanto cavalheirismo


Menino de olhos verdes
Junta os teus olhos aos meus
E dança comigo no embalo do entardecer
Beijai-me até onde não se deve.

Embaraço


Uma focinheira para a minha boca
Música sonora para os meus ouvidos
E flores ao entardecer
E pôr do sol 


Um lugar desabitado para as gostosuras
Aconchegando cada beijo apimentado
Um aceno ao entardecer
E pôr do sol


Pasta para os meus dentes
E lentes para os meus olhos
Uma mirada ao entardecer
E pôr do sol


E pôr do sol ao entardecer:
Teu olhar interesseiro
Um dos meus refrigeradores de coração.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Esmeraldino


Eu não sei se o que sinto é amor ou tesão
Não sei se este estrupício vem do coração


E ele tem um aspecto de leite
E ele é esmeraldino
Eu já nem sei mais qual cor me cai bem.

SóRrir



Arreganho a boca com simplicidade
Nos dias de hoje não se deve abjurar um sorriso


Tanta asneira sai da tua boca 
E ainda assim não se deve abjurar um sorriso


Rir do mundo
SóRrir de tudo que contém nele.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Robótica feminina


Vestem-se, bufam. Penteiam-se, bufam. Desvestem-se, despenteiam-se. Passam um batom; embelezam-se, elas ao menos cismam que estão belas; são umas sonhadoras... Depois, estão voltadas para a outra produção: lavam, passam, coziam e dormem. Seus homens são os semeadores da casa, movem-se de canto em canto; a mesa precisa está farta e o leite fresquinho. Após a janta, é hora de serem mimadas, esgarçadas; é a delícia de serem penetradas, é a saliva gotejando de suas bocas. Desforram os lençóis da cama, acordam no chão. No dia seguinte, já estão vestidas com outra roupagem, penteiam-se de outro penteado, passam um outro batom; não têm noção de como é duro estarem bonitas; não enamoram-se de sua própria beleza.

                         Logo, o homem projeta-se em dois: é o homem e é o pai, as mulheres são só as mucamas da casa.
  (grifo meu)